Estamos em 1923. Um ano depois do centenário da lndependência, o Brasil é um país cheio de problemas. Vive uma crise política sem precedentes. O presidente Arthur Bernardes governa com mão-de-ferro e um estado de sítio. Os ministros tentam renegociar com banqueiros americanos e europeus a rolagem da dívida e um novo empréstimo. A imprensa luta por uma "amnistia". Nos finais de semana, os jovens aristocratas praticam o remo e um novo esporte inglês de nome complicado: foot-ball.Florianópolis é uma ilha como todas as cidades pequenas. A vida passa calmamente e poucos percebem a eterna mudança do tempo. A ponte preta metálica (Ponte Hercílio Luz) vai mudando a paisagem e a vida das pessoas. O dia termina nas conversas ao redor da bela figueira, árvore platada ha décadas na Praça XV de Novembro, centro da Capital Catarinense. Nas ruas iluminadas pelos lampiões de gás, os cavalheiros – nas suas fatiotas de linho ou casemira – tiravam os chapéus e cumprimentavam as damas nos longos vestidos. O lazer era o Remo e os saraus.Em 1923, o Brasil vive uma grave crise política e financeira. Porém, nas esquinas surge uma paixão nacional: o foot-ball.
Até a década de 20, o futebol era um privilégio de aristocratas e descendentes de europeus. Mas, logo todos perceberam que a bola se adaptava mais aos pés hábeis, as cinturas ágeis e ao talento dos jovens operários. E, em cada esquina surgia um "team". O futebol já era paixão nacional.Na rua Frei Caneca, no bairro Pedra Grande, (atualmente Agronômica) um bando de garotos enfrentava os campos improvisados e fazia uma festa aos domingos e feriados. No entanto, eles sonhavam em jogar com os "ternos" (uniformes), como os times do Rio e São Paulo. Um dia, o comerciante Amadeu Horn realizou o sonho da gurizada. Dentro de uma caixa, saíram as camisetas listradas azuis e brancas, calções e meias azuis, chuteiras e uma bola nova. O uniforme era igual ao do seu querido Riachuelo.Era a hora de estrear o jogo de “terno”. O adversário seria o temível Humaitá. Uma equipe forte e valente. E, num domingo, o campo do Baú ficou lotado. Lá, o goleiro não via a outra trave e nem o ponteiro direito enxergava o ponta-esquerda. Aliás, estes “pequenos” detalhes não interessavam. O que importava era a bola correndo. Os garotos de Amadeu Horn venceram. Infelizmente, os artilheiros se perderam pelo tempo. Jamais se saberá quem marcou o primeiro gol do time azul e branco. O talento dos meninos entusiasmou Amadeu. Para comemorar o feito, ele deu uma festa.
Duas vitórias sobre o Humaitá. E alguém tem uma idéia genial: "Vamos fundar um clube!" Era o início da história do Avaí.
"Sorte". Esta foi a desculpa do humilhado Humaitá. E, foi marcada uma revanche. Nunca o campo do Baú viu tanta gente. Os “guris” de Amadeu Horn mostraram a garra e o talento da partida anterior. Uma nova vitória e uma outra festa. As meninas brindavam os heróis com doces, licores e cervejas. No peito, como se fosse um troféu, um laço de fita azul e branco. Na euforia, alguém sugeriu: “Por que não fundamos um clube de verdade?” A idéia foi aceita.1º de setembro de 1923. Era um sábado de tempo bom e vento norte. Um dia aparentemente normal. A cidade estava, como de costume, calma. Nas sombras da árvore frondosa, as pessoas conversavam. Entretanto, na residência de Amadeu Hom estava tudo preparado. Quem chegava assinava o livro de atas. Um só assunto foi discutido: o time de futebol. O nome escolhido foi Independência e Amadeu Hom eleito presidente.Quando todos já começavam a traçar os planos do novo clube, chega atrasado, pois precisara trabalhar após o expediente, Arnaldo Pinto de Oliveira. Contaram-lhe as novas. Ele não concordou com o nome escolhido. “Independência é muito grande. Fica difícil incentivar o "team". Quando a torcida estiver gritando, depois de um "goal", Independência, o adversário empata o jogo. É preciso um nome menor. Além disso, as cores não combinam. Ou será que vocês querem mudar as cores?”, conta o historiador Coronel Osni Meira. “E que nome você sugere?”, perguntaram-lhe. Arnaldo estava lendo um livro de história do Brasil e gostara do episódio a Batalha do Avahy. “Vocês já pensaram na nossa torcida gritando Avahy?” A resposta veio em coro: "Avahy! Avahy!". Era o começo de uma história de glórias e lutas de um clube que nasceu sob o signo da vitória.